simultaneous conference interpreter

Conferência de Tradutores nos EUA

Foto junto ao logo da 55ª conferência da Associação Americana de Tradutores.
Foto junto ao logo da 55ª conferência da Associação Americana de Tradutores.

Sim, houve uma pausa nos posts, o que é normal em períodos muito ocupados. Mas aqui estou eu, de volta, e com um bem bacana: falarei sobre a experiência que tive no congresso da Associação Americana de Tradutores, realizado no início de novembro na cidade de Chicago, nos EUA.

É a 2a vez que participo deste congresso: a 1ª foi em 2011, em Boston. E, novamente, tive a mesma sensação boa: a de estar presente em um local com vários tradutores e intérpretes bem-sucedidos e interessados em se aprimorar e em achar meios de valorizar ainda mais a sua nobre profissão.

Assisti a várias palestras interessantes sobre tradução e interpretação proferidas por profissionais que claramente dominam bastante os temas sobre os quais falaram, embora tivesse gostado de assistir a mais palestras sobre interpretação de conferências – uma modalidade que, no mercado americano, detém uma fatia de mercado muito menor do que as chamadas “community” e “legal” interpreting, que são geralmente feitas em ambientes comunitários (hospitais, escolas, etc,) e jurídicos (tribunais e julgamentos) para imigrantes. Aqui, no Brasil, não é feito amplo uso destas modalidades (ao menos ainda), de modo que os detalhes desta prática acabam ficando um pouco fora de contexto para intérpretes brasileiros.

Uma das coisas que achei interessante ao conversar com os simpáticos expositores dos stands dos prestadores de serviço foi a surpresa deles diante do fato de que não é preciso ter nenhuma certificação oficial para ser intérprete no Brasil. Acredito que, lá nos EUA, as demandas de certificação variem de estado pra estado, mas de todo modo fiquei com a impressão de que não é possível apenas “resolver” que vai ser intérprete e sair trabalhando por aí clínicas e hospitais e tribunais (como infelizmente há quem faça no Brasil, sem nem mesmo fazer cursos ou buscar algum meio legítimo de qualificação profissional – o que não é o meu caso!). Aqui, no Brasil, sei que a interpretação em tribunais pode ser feita apenas por tradutores públicos juramentados, mas, de resto, não há grande exigência de credenciais. Concordo com a surpresa dos meus interlocutores: seria bom que houvesse meios de controlar quem tem ou não treinamento formal ou certificação por associações nacionais e internacionais para praticar a atividade de interpretação: isso seria uma garantia de qualidade.

Mas o highlight deste tipo de evento é sempre o networking: tive a oportunidade de encontrar bons colegas e conhecer profissionais competentes do Brasil e do exterior, e essa troca é sempre importante e prazerosa. Há oportunidades de troca profissional “formal”, mas as principais e mais frutíferas são as informais, nas mesas de restaurantes, no karaoquê realizado pela Divisão de Língua Portuguesa (PLD)… foi muito bacana!

E, no fim, fica sempre o gostinho de “quero mais”. Por motivos pessoais já antevistos, será um pouco difícil ir à proxima edição, que será em Miami de 2015, mas… 2016 está aí pra isso!

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Tradução simultânea com aparelho portátil

O desafio desta semana foi interpretar simultaneamente usando o aparelho de tradução simultânea portátil. Ora, mas qual é o desafio? Não é só fazer a mesma coisa que se faz dentro de uma cabine? Bem, em certa medida, é, mas há uma série de pequenos desafios logísticos que o intérprete precisa lidar rapidamente e com muito jogo de cintura.

Breve descrição do cenário: um workshop em que todos os participantes compreendiam e falavam inglês e português, exceto por UM participante estrangeiro que não dominava o português, e UM professor convidado que solicitou que lhe fosse permitido apresentar em português o seu estudo de alta relevância para o workshop. Assim, fui contratada para traduzir uma única apresentação de meia hora para um único participante, de maneira que atuei sem companhia de um segundo intérprete.

O primeiro desafio foi achar um lugar na sala. Os participantes eram muitos, a sala era pequena e a tradução simultânea
portátil não conta com o isolamento acústico da cabine. Sendo assim, o intérprete precisa falar bem bem bem baixinho, e sua voz é captada pelo microfone que fica plugado em um transmissor, que, no evento em questão, foi exatamente como o da foto ao lado, da marca Williams Sound. Sendo assim, para não atrapalhar os participantes com a minha voz falando junto ao palestrante, tive que achar um cantinho pra mim.

Mas serve qualquer cantinho? Não! O intérprete tem que estar atento para achar um lugar em que ele possa ouvir bem tanto o palestrante quanto as perguntas ao final e, em um lugar que não dá pra circular, tal como em uma sala cheia, o jeito é arrumar um lugar na frente da sala, próximo ao palestrante. E não é que tinha um flipchart atrás do qual eu pude colocar minha cadeira e ficar “escondida” do público, só audível para o meu único ouvinte através do receptor dele (foto)? Ótimo, perfeito, primeiro desafio resolvido!

E agora, o desafio final: no fim da palestra, do nada, o meu transmissor parou de funcionar. Eu não percebi e continuei traduzindo. Meu ouvinte sinalizou que havia um problema. Olhei para o meu aparelho: desligado, todas as luzes apagadas, sem que eu nada tivesse feito. Tentei religá-lo em vão. Um segundo de pânico. E agora!?

Pois bem, antes mesmo de ter tempo de me preocupar, a solução veio. De onde? Do excelente técnico de som da empresa indicada por mim, que alugou para o cliente o equipamento portátil de tradução simultânea. Ele estava ouvindo a tradução o tempo todo e, no mesmo momento em que o ouvinte percebeu o problema, o técnico já estava vindo com um segundo transmissor. Sim, ele tinha um transmissor reserva, o que é muito importante, como se pode ver. Foi feita a troca e, em questão de segundos, o ouvinte já estava novamente acompanhando a palestra. Nada como um técnico previnido de uma empresa responsável que traz dois transmissores para caso um dê problema e que está ouvindo o trabalho o tempo inteiro!

Assim, como vocês veem, a tradução simultânea não depende apenas do intérprete, mas de todo um conjunto de fatores que precisam estar tão harmonizados quanto possível para o sucesso do evento, sendo que a escolha da empresa que aluga os equipamentos de tradução (cabine, etc.) é um dos itens mais importantes. Resultado da história: cliente satisfeito, agradecimentos e elogios por parte do meu único e simpático ouvinte e a sensação de mais uma missão cumprida!

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Tradução simultânea: reunião

Fazer uma tradução simultânea em uma reunião que fazia parte de uma sequência de reuniões, cujo andar das negociações eu desconhecia. É um desafio porque todos os envolvidos sabem de cor e salteado tudo o que já foi acordado e o que ainda falta resolver… todos, menos o intérprete, que é quem está promovendo o entendimento entre ambas as partes. É como cair de paraquedas em um processo já em andamento – ou já quase concluído, como parecia ser o caso. Em momentos assim, é preciso que o intérprete fique muito antenado ao contexto, para que o estranhamento com o conteúdo dure o mínimo de tempo possível. E foi o que aconteceu: fiquei um tanto “perdida” durante cerca de meia hora, mas, de repente, me senti como se tivesse feito a tradução simultânea de todas as reuniões da sequência, de tão confortável que a situação ficou. Ajudou muito também o fato de a colega com quem estava trabalhando ter estado presente em grande parte das reuniões antecedentes, o que foi de grande ajuda em certos momentos – inclusive o da preparação para o evento, pois ela gentilmente me ofereceu um glossário para estudo. A tradução simultânea bem-sucedida exige esse trabalho de equipe para que o sucesso seja garantido, e um bom entrosamento entre os profissionais que vão fazer a interpretação é de valor inestimável.


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